O lançamento de “Berghain”, novo single de Rosalía com Björk, Yves Tumor e a Orquestra Sinfônica de Londres, e a chegada iminente do álbum “LUX” traz à tona uma prática que artistas mainstream exploram há décadas: a fusão entre música popular e arranjos clássicos. Antes dela, nomes de diferentes gêneros já recorreram a orquestras, cordas e sopros para criar músicas mais sofisticadas e grandiosas.
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Foto: Reprodução YouTube
Lançado na última segunda-feira (27), o single “Berghain” antecipa “LUX”, próximo álbum da artista espanhola, que será lançado nesta sexta-feira, 7 de novembro. O disco foi estruturado em quatro movimentos, como uma sinfonia, e traz a Orquestra Sinfônica de Londres em todas as faixas, além de outros elementos eruditos, como o canto lírico, reforçando a ambição de Rosalía de explorar sonoridades clássicas e narrativas musicais complexas.
Essa fusão entre música popular e arranjos clássicos não é novidade, no entanto. Ao longo das últimas décadas, artistas de diferentes gêneros têm incorporado cordas, sopros e orquestras em seus discos, do rock ao hip-hop, passando pelo pop e pela MPB. Nomes como The Beatles, The Beach Boys, Radiohead, Metallica, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Chico Buarque, Lady Gaga e Kanye West mostram que a união entre melodias populares e estruturas clássicas já rendeu momentos memoráveis antes mesmo de Rosalía explorar o formato.
E aqui não fazemos juízo de valor sobre o trabalho de qualquer um desses artistas, incluindo a catalã. Apenas listamos outros músicos que já criaram da mesma forma que ela está fazendo em 2025. A seguir, confira alguns dos principais artistas que já exploraram essa combinação entre pop, rock, rap, mpb e mais com arranjos clássicos, criando faixas e álbuns memoráveis na história da música.
Rock / Pop Rock
The Beach Boys – “Pet Sounds” (1966): Inspirado por sinfonias e trilhas de cinema, Brian Wilson usou cordas, sopros, harpas e até sinos para criar uma “sinfonia adolescente”. A fusão de orquestra e melodias pop tornou o disco um marco na história da música moderna.
The Beatles – “Revolver” (1966): O álbum que mudou os rumos da música pop traz “Eleanor Rigby”, uma canção sem guitarras ou bateria, sustentada apenas por um quarteto de cordas, algo inédito no rock da época. A faixa mostrou como arranjos clássicos poderiam coexistir com a linguagem popular.
Radiohead – “Kid A” (2000) / “Amnesiac” (2001): Os álbuns mergulham em atmosferas experimentais, mas sem abandonar o toque orquestral: cordas e instrumentos de câmara aparecem em “How to Disappear Completely” e “Pyramid Song”, dando um ar de concerto moderno à melancolia do grupo.
Metallica – “S&M” (1999): Gravado com a San Francisco Symphony, o projeto transformou clássicos do metal em peças sinfônicas, realçando a grandiosidade das composições com arranjos orquestrais conduzidos por Michael Kamen.
Muse – “The Resistance” (2010): A banda britânica une rock progressivo e música clássica contemporânea com ambição quase operática. A trilogia “Exogenesis: Symphony” assume literalmente a forma de uma sinfonia dividida em três atos.
Silverchair – “Diorama” (2002): Com arranjos de Van Dyke Parks, o disco marca a ruptura da banda com o grunge e abraça um som mais orquestrado, repleto de cordas, metais e harmonias complexas. Um salto estético que aproximou o grupo da música erudita.
Coldplay – “Viva la Vida or Death and All His Friends” (2008): As cordas e os sinos que dominam o álbum reforçam a aura barroca e grandiosa do projeto, especialmente na faixa-título, que se tornou um hino pop de tons sinfônicos.
Arcade Fire – “Neon Bible” (2007) / “Reflektor” (2013): Conhecidos pelo uso de corais, metais e seções de cordas, os canadenses criam uma sonoridade épica e teatral, que aproxima o indie rock da estética de uma orquestra contemporânea.
Evanescence – “Fallen” (2003): O piano e os arranjos de cordas dão à sonoridade sombria da banda um toque de música clássica, ampliando o impacto emocional de faixas como “My Immortal” e “Bring Me to Life”.
Pop / Experimental
Björk – “Vespertine” (2001): A islandesa incorpora instrumentos de câmara, harpas e coros de vozes para criar um som delicado e quase litúrgico. O resultado é um dos discos mais sofisticados do pop experimental, que se aproxima da música erudita contemporânea.
Sigur Rós – “Ágætis byrjun” (1999): Com arranjos de cordas, metais e texturas etéreas, o grupo islandês cria paisagens sonoras que soam como sinfonias pós-rock. O disco é um marco na fusão entre o emocional do pop e a densidade da música clássica.
Florence + The Machine – “Ceremonials” (2011): Com corais e cordas barrocas, o álbum leva o indie pop a um território quase sacro. Florence Welch canaliza o drama e a intensidade de uma ópera moderna.
Lady Gaga – “Chromatica” (2020): Entre faixas eletrônicas, o disco intercala interlúdios orquestrais que criam um arco narrativo, como se cada bloco fosse um movimento de uma suíte pop.
Hip-Hop / Rap
Kendrick Lamar – “To Pimp a Butterfly” (2015): As cordas e metais dialogam com o jazz e o funk, mas também evocam a complexidade estrutural da música clássica. O álbum eleva o rap a uma experiência conceitual e orquestral.
Kanye West – “Late Registration” (2005): Com produção de Jon Brion, conhecido por trilhas orquestrais, Kanye incorpora arranjos de cordas cinematográficos que transformam o rap em algo próximo de uma partitura sinfônica.
Nas – “Illmatic” (1994): Mesmo com uma sonoridade centrada no sample, o disco utiliza trechos de arranjos e harmonias orquestrais que trazem sofisticação à crônica urbana do rapper.
Música Popular Brasileira
Milton Nascimento, Lô Borges – “Clube da Esquina” (1972): Marco da fusão entre pop, jazz e música erudita, o álbum mistura cordas, sopros e harmonias sofisticadas, criando arranjos ricos que influenciaram gerações da MPB.
Caetano Veloso – “Livro” (1997): Arranjos orquestrais enriquecem o pop experimental, aproximando a música brasileira de uma estética clássica sem perder a leveza.
Chico Buarque – “Chico Buarque” (1966), “Construção” (1971), “Meus Caros Amigos” (1976): O cantor e compositor sempre usou cordas, sopros e arranjos elaborados, combinando influências clássicas com a riqueza da MPB, criando faixas atemporais como “A Banda”, “Construção” e “Cotidiano”.
Liniker – “Caju” (2024): A faixa “Veludo Marrom” em colaboração com a Orquestra Brasil Jazz Sinfônica traz arranjos orquestrais dão profundidade à canção, misturando soul, MPB e elementos clássicos.
Marisa Monte – Single “Sua Onda” (outubro/2025): Produzido por Gustavo Santaolalla com participação da Orquestra de Budapeste, a faixa antecipa a turnê “Phonica – Marisa Monte & Orquestra Ao Vivo”, que levará a música da artista aos palcos acompanhada de sua banda e de uma orquestra sinfônica.
Apesar de tantos exemplos ao longo das décadas, e tantos outros que ainda poderiam ser citados, como Queen, Arthur Verocai, Legião Urbana, Iron Maiden e Elton John, a fusão entre música popular e música clássica continua inspirando artistas.
Com “Berghain”, Rosalía reafirma seu talento e o álbum “LUX” promete ser um marco em sua carreira e na música pop, mostrando que a experimentação com arranjos orquestrais ainda pode transformar o som mainstream e levar a música erudita às paradas musicais.




