Daniela Mercury tem um álbum novo, “Cirandaia”. É seu 26º disco e marca as celebrações de seus 60 anos de vida, 40 de carreira e 40 também de axé. O álbum é como uma festa, repleta de convidados de alto nível, e com uma mistura de ritmos. Tem rock, pop, MPB, samba-afro, samba-reggae, forró, galope, kuduro, bolero. “Tem tudo que me forma. Eu não separo as coisas. Brinco com tudo isso. A Bahia é essa mistura e eu sou filha dessa mistura”, ela diz ao POPline, em entrevista realizada em seu novo apartamento no Rio de Janeiro.
(Foto: Divulgação)
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“Eu nunca fui a favor de rótulos. Resisti a aceitar o nome [axé], porque a imprensa falava ‘Diga o nome para o que você está fazendo’, na época do ‘Canto da Cidade’ [1992]. Eu disse ‘Faço MPB percussiva, faço samba-reggae’, mas não teve jeito. Ficaram: ‘Posso chamar de axé?’. Eu disse: ‘Pode, o que eu fizer agora vai ser isso, não está nada feito, a gente está fazendo’. Então, quando me perguntam o que é axé, digo que é tudo o que a gente está fazendo e mais um pouco, até o dia em que a gente estiver vivo“, elabora a maior representante do gênero baiano.
Participações especiais
O álbum novo tem 12 faixas. Abre com “Axé Salvador”, com participações de Tonho Matéria, Ilê Aiyê, Muzenza, Banda Didá e Cortejo Afro. “São todos os cantores dos blocos afro cantando. A gente faz um grande coral afro-brasileiro, com os vozeirões”, pontua. Alcione, Dona Onete, Zélia Duncan, Geraldo Azevedo, Gabriel Mercury, Ehuana Yaira Yanomami, Davi Kopenawa Yanomami, Chico César e Rachel Reis também estão na tracklist. Mais músicas sairão em breve, com Lauana Prado e Vânia Abreu entre as convidadas.
“Eu gosto dessa coletividade, de estar rodeada de amigos”, diz Daniela Mercury, “esse álbum é uma celebração espontânea, um agradecimento aos produtores e parceiros que me acompanham”. As colaborações surgiram naturalmente. Dona Onete, por exemplo, mostrou a música para Daniela há dois anos nos bastidores de um show. “Fui recebendo esses presentes dos amigos. Tenho feito muitos álbuns autorais, aí achei lindo ganhar as músicas de presente”, ela diz.
O conceito de “Cirandaia”
“Cirandaia é um álbum pra girar, pra dançar, mas também pra pensar. É alegre, mas tem um fundo espiritual, filosófico. Eu quis falar de amor, de respeito, de tecnologia, de tempo, de tudo o que está me atravessando agora”, elabora a cantora. O título é uma junção de “ciranda” e “IA”, de inteligência artificial. Daniela propõe a junção da ancestralidade e da tecnologia.
(Foto: Divulgação)
“A IA é o quê? Uma Ialorixá, porque quem tem a sabedoria do mundo inteiro é quem veio lá de trás. Eu, inclusive, faço uma fala no final dizendo que ninguém pode dominar todo o conhecimento do mundo, ninguém pode ser dono de todo o conhecimento do mundo, porque isso é um patrimônio da humanidade, que a gente tem que regular inclusive, né?”, pondera a cantora.
O papel político da arte de Daniela Mercury
Daniela não tem medo de se posicionar, questionar e provocar reflexões. Diz que a arte pede coragem para fazer a diferença. “Nunca quis ser uma artista alienada. Sempre achei que cantar é um ato político”, pontua. “Tem artista que tem medo de se posicionar, mas o silêncio é uma forma de consentimento. Eu não consigo calar. A Bahia me ensinou a falar alto, a cantar o que eu acredito. O público já espera isso de mim, disserta.
(Foto: Instagram @danielamercury)
Recentemente, Daniela encabeçou um protesto em Salvador contra a PEC da blindagem, que permitiria que políticos saíssem ilesos de crimes, e contra anistia para presos por atentados contra a democracia. Na sequência, houve uma campanha na Internet para que ela batesse um milhão de seguidores no Instagram. Ela chegou a 1,1 milhão de seguidores.
“A gente precisa defender a democracia todos os dias. Ela é frágil, e a intolerância está sempre espreitando. Por isso a arte tem que ser espaço de diálogo, de empatia, de escuta. Cantar é um gesto democrático, defende a artista.
Assista à entrevista completa:




