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PRETA GIL EM 10 ATOS: A TRAJETÓRIA DE UMA ARTISTA QUE NUNCA TEVE MEDO DE SER QUEM É - Cidade FM

PRETA GIL EM 10 ATOS: A TRAJETÓRIA DE UMA ARTISTA QUE NUNCA TEVE MEDO DE SER QUEM É

(Foto: Moa Almeida)

Preta Gil faleceu na noite de domingo, 20 de julho, aos 50 anos, após uma longa batalha contra um câncer no intestino. A informação foi confirmada por familiares e pela equipe da artista, que vinha sendo tratada nos Estados Unidos. Filha de Gilberto GilPreta construiu uma carreira multifacetada e tornou-se símbolo de liberdade, coragem e posicionamento. Em vez de se calar, ela cantou, falou e se posicionou. E é assim que será lembrada.

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Foto: Instagram @pretagil

De sua estreia como cantora em 2003 com o álbum “Prêt-à-Porter” até os palcos lotados do Bloco da Preta no Rio de Janeiro, Preta Gil foi protagonista de sua própria história. Nos últimos 20 anos, transitou entre estilos musicais, formatos artísticos e desafios pessoais com a mesma postura: sem pedir licença.

Esta retrospectiva em 10 momentos revisita shows, projetos, colaborações, viradas e reinvenções que mostram como a presença e a vida de Preta foram essenciais na cultura brasileira.

1 – Estreia solo com “Prêt-à-Porter” (2003)

Preta Gil começou sua carreira solo com um marco de ousadia e posicionamento. O álbum “Prêt-à-Porter” não apenas apresentou sua mistura de pop, eletrônico e MPB, como também chegou às lojas com uma capa que gerou polêmica: Preta aparecia semi-nua, com o corpo coberto por uma fita de Senhor do Bonfim.

A imagem provocou reações diversas e foi duramente criticada por parte da mídia e do público. Mas Preta não recuou. Pelo contrário: aproveitou o espaço para levantar um debate importante e ainda incipiente na época sobre a diversidade de corpos, a gordofobia e os padrões estéticos da indústria cultural.

A capa virou símbolo de coragem e se tornaria um dos primeiros grandes gestos públicos de Preta na luta por representatividade e autoestima.

2 – Protagonismo como mulher gorda

Ao longo dos anos, Preta Gil se tornou uma das vozes mais potentes na discussão sobre o direito de existir em um corpo fora do padrão. Em um país marcado por padrões estéticos violentos, ela foi presença constante em capas de revista, desfiles de moda, desfiles de carnaval e campanhas publicitárias não como exceção, mas como afirmação.

Preta falava com franqueza sobre o prazer de se vestir, de se exibir, de se sentir bonita, algo que mulheres gordas costumavam ser ensinadas a evitar. Seu ativismo era vivido no corpo, no palco e na tela, sempre com a mensagem: “Você pode ser feliz do jeito que você é.”

Capa do álbum “Prêt-à-Porter”. Foto: Divulgação

3 – O “Bloco da Preta” (2009)

O carnaval foi um dos palcos mais importantes da artista. Em 2009, ela lançou o Bloco da Preta, que rapidamente se transformou em um dos maiores e mais queridos do Rio de Janeiro. Mais do que música e festa, o bloco era um espaço de acolhimento, diversidade e liberdade de expressão.

No comando do trio elétrico, Preta Gil era rainha e militante, misturando axé, pop e discurso. Levava para o público mensagens de autoestima, liberdade sexual e luta contra o preconceito. Em plena folia, o bloco se tornou símbolo de resistência e afeto.

4 – Posicionamentos políticos e sociais

Preta Gil nunca se omitiu quando o assunto era justiça social. Assumiu posições políticas claras em defesa da democracia, dos direitos das mulheres, da população LGBTQIAPN+ e do povo preto. Esteve em campanhas, participou de atos públicos e usou suas redes sociais como espaço de debate, mesmo em tempos de polarização extrema.

Recebeu ataques, foi alvo de fake news, mas seguiu firme. Sua atuação ultrapassava os palcos: Preta foi uma cidadã ativa, com consciência do impacto de sua visibilidade.

5 – Referência de liberdade sexual

Desde o início da carreira, Preta Gil falou abertamente sobre bissexualidade, prazer feminino e liberdade nas relações afetivas. Em um meio ainda conservador, seu discurso foi pioneiro e necessário.

Nunca escondeu suas experiências, não se curvou à pressão moral e sempre reforçou o direito de viver e amar em todas as formas. Essa liberdade reverberava também em suas letras, entrevistas e interações com o público, tornando-a uma figura essencial para quebrar tabus na cultura brasileira.

6 – Empreendedora visionária: dos palcos aos bastidores da indústria

Muito além do microfone, Preta Gil também se destacou como uma das figuras mais empreendedoras da música e do entretenimento brasileiro. Entendendo desde cedo o peso da sua imagem e a lacuna de representatividade nos bastidores, ela investiu em negócios que conectavam cultura, diversidade e impacto social.

Foi uma das fundadoras da Liga Entretenimento, empresa de produção de shows e eventos que nasceu com foco na valorização da música brasileira e na criação de experiências culturais plurais. De lá, vieram shows emblemáticos, festivais e a estruturação profissional do “Bloco da Preta”, um dos maiores do carnaval do Rio, que movimentava multidões e gerava impacto social e econômico na cidade.

Mais adiante, tornou-se sócia da Mynd8, agência especializada em marketing de influência, gestão de imagem e diversidade. Ao lado de Fátima Pissarra e Carlos ScappiniPreta ajudou a transformar a Mynd em uma das empresas mais relevantes do setor, com foco em talentos plurais e campanhas que refletiam a realidade do Brasil.

Foto: Instagram/@blocodapreta

7 – Projetos com a Família Gil

Filha de Gilberto GilPreta Gil nasceu imersa em música, mas nunca se limitou à sombra do pai. Mesmo assim, valorizou profundamente sua conexão com a família Gil, participando de projetos e turnês ao lado do pai, dos irmãos, sobrinhos e demais familiares.

Momentos como o espetáculo “Nós, A Gente”, o álbum “Ok Ok Ok”, que traz a canção de Gil para a sua bisneta e neta de PretaSol de Maria, o reality show da família “Viajando com os Gil” e os múltiplos encontros no palco, inclusive em sua última performance, mostraram o elo artístico e afetivo entre eles. Preta era o equilíbrio entre o legado e a ruptura: herdeira da tradição, mas dona de um caminho pop e pessoal.

8 – Afeto com os fãs e presença digital

Preta Gil sempre entendeu que sua relação com o público ia além do palco. Nas redes sociais, construiu uma comunidade afetuosa, politizada e diversa. Usava o Instagram como diário e canal direto, com humor, sinceridade e humanidade.

Falava de corpo, fé, política, maternidade, autoestima, sexo e espiritualidade com a mesma naturalidade. Criava identificação, ria de si mesma, chorava com o público, celebrava a vida, mesmo nos períodos de maior fragilidade.

Até os últimos dias, manteve essa conexão ativa. Deixou vídeos, mensagens e registros que revelam uma artista que nunca deixou de ser gente e que escolheu se comunicar livremente até o fim.

9 – Coragem até o fim

Em 2023, Preta Gil foi diagnosticada com câncer no intestino. Diante de um dos maiores desafios de sua vida, escolheu, mais uma vez, não se esconder. Compartilhou com o público cada etapa do tratamento: internações, cirurgias, medos e vitórias.

A forma como lidou com o adoecimento, sem maquiagem, sem romantização, foi um ato de generosidade. Ao falar abertamente sobre as dores físicas e emocionais, inspirou e acolheu milhares de pessoas que também enfrentam doenças graves.

Com fé, sensibilidade e verdade, ela fez da própria vulnerabilidade uma ponte e sua batalha virou bandeira. Mesmo nos dias mais difíceis, manteve a coragem que sempre a definiu.

Preta refletiu a respeito do preconceito que sofrem as pessoas ostomizadas e combateu a desinformação. Foto: Instagram/@pretagil

10 – Legado de alegria, resistência e liberdade

A história de Preta Gil é marcada por música, festa e militância. Sua trajetória artística nunca se separou de seu ativismo e seu legado vai além das canções.

Ela ensinou que corpo é político, que alegria pode ser arma e que não existe liberdade plena sem acolhimento. A vida de Preta foi um ato contínuo de resistência amorosa e continuará inspirando quem ousa viver fora da norma.

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